sexta-feira, abril 04, 2008

.. oNe LoSt NoTe ..


"Foi um apontamento que tinha no caderno de contabilidade que te trouxe aqui, e curiosamente é também um apontamento que fiz num outro caderno que me trás aqui hoje.


Caminho pela rua e não vejo nada... Apenas o céu, vermelho escuro, laranja, deslumbrante, lindo ao comtemplar o anoitecer das cidades.

Trago comigo uns sorrisos. Contam-se pelos dedos de uma mão e mesmo assim alguns deles já foram amputados. Tenho pouco que me guie, portanto.

Acelero o passo.

Quando me deixo levar, quando penso, acelero sempre o passo. Sem nunca cair, ando cada vez mais depressa, sem notar as gotas de suor que se formam na testa, nem as pernas que se começam a cansar. Vou rápido como o pensamento, literalmente. Mas não vejo nada. Tropeço, e no curto espaço de tempo que levo a cair os 90º de um ângulo recto, sinto todo o cansaço que até agora não tinha notado. Perdi-me. E estou a cair. Lentamente, mas ao mesmo tempo a uma velocidade imensurável! Faltam 5º para o chão.
Páro.
Então!!!?? Eu ia a cair! O que é isto?
Ali parada, olho para o chão. Não é um caminhu, nem sequer estou na mesma rua. É de vidro. Não. De diamante. Polido e brilhante. Ofusca.. Nele vejo reflectido os sorrisos que transportava. Nenhum é amarelo, são todos brancos, puros. Não me deixam cair, incrivel. Eram tão pequenos, mas agora não me deixam cair e sao o meu sustento, ansia, suspiro, emoçao...


Olho para o teu. É lindo...

Tocas-me, lentamente, não querendo estragar algo tão frágil. Com um dedo. Um dedo, que sinto como se fosse uma pena, suave e lentamente percorrendo a minha face, meu corpo... Um dedo que contorna os meus olhos e desce as pálpebras. Pára na ponta de meu nariz, e segue para os lábios. Um dedo que me silencia.
Shiu...
Olhas-me. Simplesmente.
(agora entra .. mas pensa.. se te tocassem, após um tratamento de insensiblidade por muito tempo, saberias distinguir riso de sorriso? E, sendo um sorriso, saberias olhar para os olhos em vez da boca? Mas só verei na boca aquilo que me ocorrer à cabeça, não aquilo que verdadeiramente queres dizer. Por isso, mesmo sem saberes, me silencias. Estranhamente, é daquelas coisas em que de pouco me serve ser perspicaz, pois normalmente perspicácia a mais leva a erros...Tento silenciar-me, como me dizes. Acalmo-me, aceito-te como sorriso e não como boca. Aceito-te como me dás.

Quero-te, mas suavemente. Vem, entra! Conhece-me, para mais tarde me poderes reconhecer, para não custar tanto na primeira vez que nos virmos. Para te poder dizer "olá" e estar tudo explicado.
Caí por fim. Mas já não é diamante. São almofadas. Tantas... Ainda está o teu dedo nos meus lábios. Ainda não aprendi a me silenciar muito bem, mas agora quero-te.


Quero-te suavemente...


Não me quero levantar, mas também não quero cair! Desejo sentar-me, e contar-te uma história.
Contar-te eu.
Mostrar-te eu."

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